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A Linguagem enquanto construção e ação sobre o Mundo


1. Introdução


Esse artigo é fruto de um processo mais amplo e pessoal de compreensão dos fenômenos ligados à linguagem. Processo esse que se faz com angústia e preocupação. Preocupação porque os estudos da linguagem parecem estar dispersos em vários ramos da ciência que muitas vezes não trocam conhecimentos entre si, como a filosofia, a linguística, a psicologia, a sociologia, entre outros. Angústia porque, ao tentar montar esse quebra cabeça, encontro muito mais choques e divergências, algumas vezes entre simples conceitos ou denominações, do que diálogos e contribuições.




O que proponho nesse artigo é discutir a concepção da linguagem enquanto construção da realidade humana e ação dos sujeitos sobre o mundo, usando algumas contribuições da Psicologia, da Filosofia, da Pragmática e da Análise do Discurso.

Compreender a linguagem enquanto construção da realidade humana e ação do sujeito sobre o mundo é, ao mesmo tempo, integrar e superar duas outras concepções de linguagem, a concepção da linguagem enquanto representação do mundo e a concepção da linguagem enquanto uma língua, um código, um instrumento de transmissão de informações.

A linguagem, do ponto de vista desse trabalho, não corresponderia somente à língua, mas seria uma maneira que os sujeitos humanos encontram de significar a realidade, de construir a realidade humana a partir da realidade concreta.


2. A linguagem como representação


A finalidade da filosofia é o esclarecimento lógico do pensamento. (Wittgenstein, Ludwing. Tractatus Lógico-Philosophicus. 3º ed – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001: 4.112 ).


A concepção de linguagem enquanto representação do mundo, apresentada a seguir, se apoiará na leitura do Tractatus Lógico-Philosophicus de Wittegeinstein (2001), que considero ser uma obra que concentra muito bem as idéias dessa concepção.

A linguagem no Tractatus é considerada representacionista visto que ela tem como função primordial representar a realidade. Para Wittegeinstein os limites da linguagem são os limites do mundo.

Para o autor do Tractatus os nomes adquirem significado ao atuarem, na linguagem, como representantes (referência) de um objeto presente na realidade; um nome simboliza algo que ele nomeia. Essa representação é convencional, ou seja, a natureza do nome e do nomeado são diferentes. O significado de um nome é o objeto que ele nomeia.

Os nomes, presentes em uma figuração, não correspondem apenas às propriedades do nomeado, mas às propriedades que os nomeados possuem no contexto de uma figuração na realidade. Para que uma proposição seja verdadeira é necessário que a posição relativa do nome na figuração signifique a posição do nomeado no fato possível afigurado.

Os nomes seriam meras convenções. Poderíamos substituir a palavra cadeira, por exemplo, pela variável x: daria o mesmo. O importante é que tanto a palavra cadeira como a variável x, que representam um objeto em uma figuração, correspondam ao mesmo em um fato no mundo. Um nome isolado não tem significado, ele só tem significado ao designar um objeto no interior de uma proposição.

No caso da proposição, esta é composta de nomes (que mantêm relações projetivas que os conectam aos objetos que eles nomeiam) e ela relata um fato, ou seja, apresenta como esses nomes estão, ou podem estar, combinados na realidade. Se o que a proposição representa é algo que existe no real, ela é dita verdadeira. Se, ao contrário, o que ela representa é algo que não existe no real, ela é dita falsa. No entanto, o sentindo da proposição é independente de sua verdade ou falsidade. Assim como acrescenta Santos,


No que importa à lógica, esse sentido é aquilo que, sendo um fato, torna a proposição verdadeira, não o sendo, a torna falsa. (SANTOS, Luiz H. L. A essência da proposição e a essência do mundo. IN: Wittgenstein, Ludwing. Tractatus Lógico-Philosophicus. 3º ed – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001).


Dessa maneira o sentido de uma proposição é dado a partir do significado de seus constituintes e pela possibilidade sintática da ocorrência desses constituintes em proposições ou, dito de uma outra maneira, pela possibilidade dos objetos, que estão nomeados nela, se combinarem na realidade. Uma proposição pode ter sentido e ser falsa, pois ela pode representar algo que poderia existir, mas que, no entanto, ainda não existe.

Mais uma vez recorrendo a Santos temos que,


cada proposição é feita verdadeira ou falsa por uma porção da realidade, pela existência ou inexistência na realidade de uma tal combinação – um fato. Perguntar pelas condições lógicas em que uma proposição ganha sentido é perguntar pelas condições em que ela, através da articulação de símbolos que se referem a elementos da realidade – levada a cabo de determinadas maneiras, eventualmente indicadas por outras espécies de símbolos, os chamados símbolos lógicos – logra identificar o fato possível de cuja existência ou inexistência como uma porção da realidade depende sua verdade ou falsidade. (SANTOS, Luiz H. L. A essência da proposição e a essência do mundo. IN: Wittgenstein, Ludwing. Tractatus Lógico-Philosophicus. 3º ed – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001).


A proposição só pode existir pelo fato de a linguagem manter com a realidade um isomorfismo, no sentido de que compartilham uma mesma “forma lógica”. Para Wittegeinstein, haveria uma estrutura comum entre a realidade e a linguagem que a representa. Essa estrutura, ou de certa forma, essa “lei”, é o que garantiria a possibilidade da linguagem poder representar a realidade ou um fato da realidade. Essa estrutura é a lógica. O mundo de Wittgenstein é um mundo Lógico. A realidade seria constituída ou seguiria as normas da lógica, assim como a linguagem. Dessa forma, uma proposição poderia dizer algo a respeito da realidade, porque a relação que encontramos entre os elementos da preposição representa a mesma relação que encontramos entre os elementos da situação, ou fato.

Para o autor, a nossa linguagem também seguira outras “leis” ou regras, como a gramática, por exemplo. Assim, seria necessário aplicar um “modelo da lógica”, abstrair da proposição seus componentes materiais e os substituir por variáveis, para assim, obter-se um “protótipo lógico”, uma proposição que seria capaz de representar esse fato de forma geral, como uma equação matemática. Ao fazermos isso revelaríamos a forma lógica da preposição.

Assim, a leitura do Tractatus nos deixa entender que uma linguagem que não fale de objetos, não teria sentido. Por isso Wittegeinstein condenou as discussões a respeito da Ética e de Deus, visto que estes não são objetos, ou seja, não estão na realidade. A linguagem, nessa concepção representacionista, é vista como mera substituta da realidade. Os nomes seriam substitutos dos objetos e as proposições substitutas das relações entre estes. Ah! Sim! Sobre o resto, o que não se pode dizer, deve-se calar.


3. A linguagem como língua.

Nessa concepção, a linguagem é vista como um código, um instrumento de transmissão de informações entre sujeitos, uma língua. A língua, enquanto código, seria

um conjunto de signos que se combinam segundo regras, e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor. Esse código deve, portanto, ser dominado pelos falantes para que a comunicação possa ser efetivada. Como o uso do código que é a língua um ato social, envolvendo conseqüentemente duas pessoas, é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada para que a comunicação se efetive. (Travaglia, 1997:22).

Assim a linguagem, nesta concepção, se resumiria ou teria o mesmo significado de língua.

O privilégio dado ao estudo da língua enquanto código dominou, durante décadas, os trabalhos lingüísticos. Duas escolas se destacam: O Estruturalismo saussuriano e o Gerativismos de Chomsky.

Saussure (2003), em “seu” livro póstumo Curso de Lingüística Geral, considerado um marco dos estudos estruturalistas na lingüística, apresenta uma dicotomia que, para ele, é primordial para o estabelecimento da Lingüística enquanto ciência: a dicotomia entre língua e fala. O objeto de estudo que a lingüística deve tomar para si é a língua, algo que seria “social” e universal. Como afirma Saussure, a “língua, distinta da fala, é um objeto que se pode estudar separadamente” (: 22). Ela seria “um objeto de natureza concreta, o que oferece grande vantagem para o seu estudo” (: 23) e ela seria o “produto social depositado no cérebro de cada um” (: 33).